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Dano muscular: Descubra seu real papel na hipertrofia!

dano muscular

O dano muscular foi considerado um dos principais mecanismos responsáveis pela hipertrofia durante muito tempo. De fato, o raciocínio fisiológico que dá suporte a essa hipótese pode parecer bastante convincente.

Contudo, novos estudos realizados com métodos bastante robustos têm demonstrado qual a real relação entre dano e hipertrofia.

Nesse artigo vou te apresentar a lógica que sustenta a relação entre o dano para a hipertrofia, e se essa lógica pode ser sustentada atualmente. Além disso, veremos quais mecanismos parecem estar relacionados com a hipertrofia muscular.

 

O que é e como ocorre o dano muscular?

O dano muscular são pequenos traumas gerados no tecido muscular quando realizamos algum exercício físico, especialmente quando não estamos acostumados ao exercício.

 

Qual a lógica por trás da relação entre dano muscular e hipertrofia?

Para entendermos a lógica por trás dessa hipótese, precisamos compreender minimamente como a hipertrofia acontece. A quantidade de tecido muscular parece estar relacionada com o equilíbrio entre síntese (construção) e degradação (quebra) de proteínas.

A hipertrofia acontece quando somamos consecutivos estímulos capazes de aumentar a taxa de síntese proteica (1). Um desses estímulos é o treinamento de força.

Nesse sentido, durante muito tempo parte da comunidade científica atribuiu o processo de hipertrofia ao dano muscular. Afinal de contas, protocolos capazes de gerar um elevado dano estimulavam diversos mecanismos que produziam altas taxas de síntese proteica (2).

Desse modo, o treinamento deveria gerar dano muscular para estimular a síntese proteica e possibilitar que as fibras musculares ao se regenerarem, se tornassem maiores.

De fato, esse é um raciocínio fisiológico bastante convincente e ainda muito utilizado para sustentar a relação entre dano e hipertrofia. Mas será que essa lógica se sustenta atualmente?

 

Dano muscular e hipertrofia – essa relação se sustenta frente as novas evidências?

Para avaliarmos a relação entre o dano muscular e a hipertrofia, precisamos entender dois fenômenos decorrentes do treinamento de força. Um deles é o efeito protetor, também conhecido como efeito de carga repetida. O outro, é a forma com que a taxa de síntese proteica se comporta e se correlaciona com a hipertrofia ao longo do treinamento.

 

Efeito protetor / efeito de carga repetida.

O efeito protetor ou efeito de carga repetida, consiste na atenuação do dano muscular ao longo de um programa de treinamento. Em outras palavras, o efeito protetor faz com que o músculo sofra cada vez menos dano a cada nova sessão de treinamento (3, 4).

Mesmo quando realizamos cada sessão até a falha muscular, o efeito protetor fará com que o dano seja menor a cada nova sessão de treinamento (5). Esse processo ocorre até que o dano se torne baixo a ponto de ser muito baixo.

Ao contrário do que alguns podem pensar, esse processo acontece rapidamente. Tem sido demonstrado que após 5 sessões de treinamento, o dano muscular já está bastante atenuado, e após 19 sessões quase indetectável (5).

Esses fatos parecem desafiar a hipótese de que o dano afeta a hipertrofia. Afinal de contas, se o dano é rapidamente atenuado, como a hipertrofia aconteceria? Contudo, esse não é o único fato que desafia essa hipótese.

 

Dano muscular, taxa de síntese proteica e hipertrofia.

Como mencionei anteriormente, a hipertrofia muscular parece ser o resultado da somatória de vários estímulos que aumentam a taxa de síntese proteica. Portanto, a relação entre dano e hipertrofia parece fazer sentido já que a síntese é altamente estimulada na presença do dano muscular.

Contudo, novas evidências apontam que a maior taxa de síntese proteica que ocorre na presença de dano muscular, não é necessariamente convertida em maior hipertrofia.

Nesse sentido, um estudo (5) investigou a relação entre dano muscular, taxa de síntese proteica e a hipertrofia. A taxa de síntese proteica e o dano foram medidos na primeira, terceira e décima semanas de treinamento. Além disso, a hipertrofia das fibras musculares e do músculo vasto lateral foram medidas após as 10 semanas de treinamento.

 

Resultados do estudo.

Os autores encontraram hipertrofia das fibras e do músculo vasto lateral após as 10 semanas de treinamento. O dano muscular e a taxa de síntese proteica foram maiores na semana 1 comparados as semanas 3 e 10. Nas semanas 3 e 10, o dano já havia sido bastante atenuado, e com isso a taxa de síntese proteica também diminuiu.

Isso demonstra que de fato, o dano muscular pode aumentar a taxa de síntese proteica. Contudo, a maior taxa de síntese proteica da semana 1 não se correlacionou com a hipertrofia das fibras ou do músculo todo. Somente nas semanas 3 e 10, quando o dano havia sido atenuado e a taxa de síntese diminuído, houve uma forte correlação entre a síntese proteica e a hipertrofia.

Aparentemente, a elevada taxa de síntese proteica induzida pelo dano muscular das sessões iniciais de treinamento parece não ser totalmente direcionada para a hipertrofia. Somente quando o dano é atenuado, a síntese parece estar sendo direcionada de fato para a hipertrofia.

Outro estudo dos mesmos autores feito posteriormente veio dar suporte a essa hipótese (6). Esse estudo realizou a análise de diversos genes estimulados pelo treinamento de força.

Foi demonstrado que nas semanas iniciais onde o dano muscular é elevado, a maioria dos genes expressos estão relacionados ao remodelamento e reparo do músculo. Somente nas semanas seguintes, quando o dano está atenuado, os genes expressos são relacionados a melhora da função e crescimento muscular.

Em conjunto, esses estudos demonstram que o dano parece não ser o mecanismo pelo qual a hipertrofia acontece.

 

Como a hipertrofia é estimulada sem o dano muscular?

Já que o efeito protetor atenua o dano, e a síntese só se correlaciona com a hipertrofia após esse processo, como a hipertrofia é estimulada? O processo de hipertrofia parece ser dependente de vários fatores, e ainda é pouco compreendido. Contudo, uma das hipóteses é de que a tensão mecânica gerada pelo treinamento, atua nas fibras musculares por meio da mecanotransdução (7).

Na mecanotransdução, estruturas da matriz extracelular das fibras musculares convertem o estímulo mecânico da contração muscular em sinalização molecular para o interior das fibras. Em outras palavras, as fibras musculares identificam a tensão gerada pela contração muscular e a convertem em informação química que irá iniciar a síntese proteica.

Imagino que nesse ponto do nosso artigo você já deva imaginar que esse processo acontece independentemente do dano muscular. Caso você queira saber mais sobre quais vias moleculares podem ser sinalizadas no processo de mecanotransdução, veja nosso artigo completo sobre hipertrofia muscular.

 

Conclusão.

Embora a relação entre o dano muscular e a hipertrofia tenha sido aceita por muito tempo, esse paradigma não se sustenta frente as evidências atuais.

O processo de hipertrofia ainda é pouco compreendido. Contudo, tem sido sugerido que o mecanismo da mecanotransdução pode desempenhar um papel importante nessa adaptação.

Temos um artigo que fala sobre outros 11 mitos da musculação, se acaso você se interessou pelo assunto!

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